sábado, 16 de julho de 2011

Um pouco de quem fui, de quem sou e do que serei

           " Somos quem podemos ser [...] Um dia me disseram que as nuvens não eram de algodão. Que os ventos   as vezes erram a direção. E tudo ficou tão claro. Um intervalo na escuridão."  Engenheiros do Hawaii.




               Desde muito cedo aprendi que as nuvens não eram de algodão e que tão pouco eu alcançaria o céu. Comecei então a esquecer o céu e mesmo não sendo de algodão continuei a olhar as nuvens.
                Era uma vez, uma menina que gostava de colocar as mãos no riacho que passava perto de sua  casa, que brincava em árvores e escondia jabuticabas como se essas fossem ouro.
                Era uma vez, uma menina que perdia-se a caminhar na roça de milho e bem cedinho sentia o sabor das espigas assadas  misturando-se ao aroma do café forte feito no fogão à lenha;  A mesma menina que odiava o cheiro do leite, ainda quente, direto do peito da vaca.
                 Era uma vez, uma menina que amava ouvir " histórias de trancoso " da vó Josefa de lindos olhos azuis e voz severa.
                 Era uma vez, uma menina que fazia panelinhas com barro, enfeitava uma linda casa debaixo de uma árvore. Uma menina que não tinha muitas bonecas, mas muitos amigos. Não tinha bicicleta,  mas sonhava com ela, mesmo sem saber o que era correr em uma. Até que aos 16 anos descobriu.
                  Era uma vez, uma menina que roubava livros, só os que pareciam-lhe bem antigos. Uma menina que queria escrever muitos livros, uma menina que se descobriu com os livros.
                  Era uma vez, uma menina que tinha cinco irmãos, todos maiores que ela, todos com seus próprios sonhos, seus medos e seus caminhos, que mesmo sempre tão contrários sempre se cruzaram. Quanto aos pais, melhores não poderia ter, José e Maria; Ele, manso, quase doce. Ela, totalmente descontrolada... Por eles a menina sabia que era amada.
                  Era uma vez, uma menina que não queria ser pequena. Onde vivia os pequenos eram pisados, esmagados.
                  Queria ser "gente grande", grande o suficiente para que a escutassem.
                  A menina cresceu. Continua olhando as nuvens, amando o mar, continua sem bicicleta, ainda adora milho assado, já não rouba livros, "mas aceita doações ". Quanto a família, só a vó Josefa se foi, os irmãos cresceram, assim como a família    toda,  os pais continuam lhe ensinando as lições que não haviam na escola, lhe ensinam sobre humildade, força e coragem.
                   Era uma vez,  uma menina que nunca acreditou em príncipe encantado, que ainda assim beijou um monte de sapos. Uma menina que mesmo sabendo que o amor era " papo furado ", arriscou , se apaixonou, morreu , renasceu, viveu.
                   Era uma vez, uma  menina que dos Deuses ganhou um menino, o mais lindo, mais amado que mudou sua vida de uma forma doce e assustadora. Mais uma vez a menina precisou crescer, para ser mãe, tornou-se assim um novo ser.
                   Era uma vez nunca mais.
                  




               

Era uma vez nunca mais.

         Era uma vez... Somente os Contos de Fadas possuem essa magia. A vida real  pede um complemento, "nunca mais". A vida não tem rascunho, não a reescrevemos, acredito que seja possível sim escolher  nossos caminhos, colher flores ou espinhos. Porém feita esta escolha, Era uma vez nunca mais... Olhar o passado nunca será o mesmo que voltar à ele.